domingo, 8 de abril de 2012

Relacionamento com a vida: até quando?



                                         

Ao homem está ordenado morrer uma só vez...

                                                                                   (Carta aos Hebreus 9.27)

Os covardes morrem várias vezes antes da sua morte, mas o homem corajoso experimenta a morte apenas uma vez.
                                                                                    (William Shakespeare)

Se quiseres poder suportar a vida,  fica pronto para aceitar a morte.
                                                                                                  (Sigmund Freud)



É difícil falar com certeza, mas quem estuda o assunto diz que morrem por dia no mundo cerca de 148.272 pessoas.

Por mais que a gente lute para viver muito, a verdade é que a morte é uma das poucas certezas que o homem e a mulher desfrutam na vida, diante dela o forte fica fraco, o herói se acovarda, o grande se apequena e todos se dobram.

Quem for ceifado na juventude não terá de encontra-la mais tarde, mas os que viverem um pouco mais dela também não escaparão.

O que me deixa as vezes boquiaberto é a forma que lidamos com a vida. sem saber quendo iremos traçamos planos e projetos, e vivemos como se só o vizinho é que fosse um dia partir, nos esquecendo que para o outro o vizinho somos nós.

Já perdi meu pai, os avós paternos e o avô materno, já fui a velórios de tios, tias, amigos, primos e conhecidos.

Cada vez que me encontro em um velório, penso um dia serei eu.

Vinicius de Moraes, célebre poeta, escreveu:


De manhã escureço,
De dia tardo,
De tarde anoiteço,
De noite ardo.
A oeste a morte,
Contra quem vivo,
Do sul cativo,
O este é meu norte.

Outros que contem,
Passo por passo:
Eu morro ontem,
Nasço amanhã,
Ando onde há espaço:
– Meu tempo é quando.

Mario Sergio Cortela, filósofo e profesor, diz  no texto "Descanse em Paz?", do Livro "Não Nascemos Prontos"da editora Vozes:

"Em uma de suas cartas, o romancista Gustave Flaubert escreveu: "Que grande necrópole é o coração humano! Para que irmos aos cemitérios? Basta abrirmos as nossas recordações; quantos túmulos!".

"Não temos tempo!" Houve uma época na história humana (e não faz muito tempo) na qual, quando um dos nossos morria, parávamos tudo o que estivéssemos fazendo; o trabalho, ou o que mais fosse, era interrompido, e, se preciso, faziam-se longas viagens, até noturnas (sem os rápidos aviões, carros e boas estradas), mas não deixávamos de, velando os partintes, cuidar dos ficantes.
A humanidade houvera compreendido que, se com a morte não nos conformamos, ao menos nos confortamos, nos fortalecemos em conjunto, nos apoiamos. As pessoas ficavam às vezes por um dia e uma noite, em volta da família, aglomerados, grudados, exalando solidariedade e emoção, orando e purgando lentamente o impacto, mostrando aos mais próximos que não estavam sozinhos na perda.
É sinal de humanidade não se conformar com a morte e, portanto, buscar vencer simbolicamente o que parece ser invencível. A própria palavra cemitério (derivada do grego), usada em vários idiomas, significa lugar para dormir, dormitório, lugar para descansar. 
Deixamos de velar (no sentido de tomar conta, cuidar!) para velar (como cobrir, ocultar, esquecer, apagar).
Não temos mais tempo! Se recebemos a notícia de que algum conhecido faleceu, olhamos o relógio e pensamos: "vou ver se dou uma passadinha lá...."; alguém morre às 10 horas da manhã e, se der, será enterrado até as cinco da tarde, de maneira a, em nome do "não sofrermos muito", sermos mais práticos e rápidos. Nem as crianças (já um pouco crescidas) são levadas a velórios; muitos argumentam que é para poupá-las da dor. Isso não pode valer, parte delas cresce sem a noção mais próxima de perda e, despreparadas e insensibilizadas para enfrentar algumas situações nas quais a nossa humanidade desponta, simultaneamente, fraca e forte, perdem força vital.
Por isso, não será estranho se, em breve, tivermos que nos acostumar também com o velório virtual ou, principalmente, como já está começando em países mais "avançados", o velório "drive-thru": entra-se com o carro, coloca-se a mão sobre o corpo do falecido (enquanto o sensor lê tuas digitais para enviar um agradecimento formal), aperta-se um botão com a oração que se deseja fazer e...pronto, já vai tarde. Parece ridículo? Se não prestarmos atenção, assim será. 
Vale o alerta de Gilberto Cesbron: "E se fosse isso perder a vida: fazermos a nós próprios as perguntas essenciais um pouco tarde demais?"



E hoje o que estás construindo?

Todos deixaremos um legado.

Todos um dia seremos história na boca de alguém.

Todos nós um dia teremos um ponto final em nossas existência terrena.
Eu como cristão convicto sou adepto da crença que nem tudo termina por aqui.
Mas e você?

Como diz Cortela no título de um de seus livros, por sinal um dos melhores que já li: "Qual é a tua obra?" 


Pelo que você vive? Pelo que nós vivemos? O que nos inspira? O que nos desafia? O que nos deixa indignados? O que nos faz sonhar?


Quando crianças somos cheios de utopias, sonhos irrealizáveis para os outros, mas não para nós!

Porém com o passar dos anos, com as aparentes contradições da vida, com as diversas frustrações contínuas, enterramos os sonhos no terreiro dos medíocres e com eles passamos a andar.

 Setenta anos, talvez oitenta ou noventa, nós viveremos, parece muito, mas não é depois de algumas décadas,são muitas lembranças da infância e parece que foi ontem.

Acorde enquanto é possível, ontem não existe mais, amanhã é dúvida. O que temos então?

Temos o hoje. Temos o agora. 
Digo isto não despresando o passado ou o futuro.

Antes oriento que se siga o sábio conselho de Paulo Freire, um dos maiores pedagogos que o Brasil já teve:

(...) todo amanhã se cria num ontem, através de um hoje (...). Temos de saber o que fomos, para saber o que seremos”.

Jesus Cristo,meu amado mestre, disse:
...Hoje pedirão a tua alma e o que tens para quem será?