quinta-feira, 28 de junho de 2012

Teologia Elementar - Bancroft (Dica de Leitura)

                                                 


Muitos líderes evangélicos receberão jubilosos este volume teológico saído da pena do Dr. Emery H. Bancroft, ainda que este novo volume seja um compêndio elementar é valioso e importante.

É realmente lamentável que nossos dias não estejam produzindo grandes teólogos. Há negligência nesse significativo campo. A negligência talvez seja devida parcialmente ao fato que especializar-se no terreno da teologia, exige submissão a uma disciplina mental que não oferece atrativo algum em nossa época de excentricidades e debilidades espirituais.

Para que se perceba a necessidade de um reavivamento na teologia é bastante que se leia as obras teológicas de outras épocas e em seguida se leia alguns dos modernos religiosos. Alguns de nossos ensaístas populares, que estão pregando e escrevendo o que consideram sermões, bem poderiam dar atenção à obra elementar do professor Bancroft.

O Dr. A.H. Strong define a teologia como segue: “Teologia é a ciência de Deus e das relações entre Deus e o universo”, como alvo da teologia ele apresenta ”a averiguação dos fatos concernentes a Deus e às relações entre Deus e o universo, bem como partes componentes de um sistema formulado e orgânico de verdade”.

Aqui vamos a importância e o valor do Estudo da teologia. No presente volume o autor teve em mente a necessidade dos alunos de Institutos Bíblicos e daquele grande número de obreiros cristãos que estão a ensinar nas classes de Escola Dominical.

Sem contar o valor do conhecimento adquirido, o estudo deste assunto contribui para o desenvolvimento mental. A habilidade de pensar com clareza e de apresentar a verdade de maneira lógica é o resultado que geralmente se segue ao estudo diligente da teologia.

Redes e aquários: repensando os nossos relacionamentos interpessoais


                                          


(Por João Pereira Coutinho)

Há um novo crime na praça. E eu sou culpado aos olhos de amigos, colegas, até leitores. Não respondo a e-mails de imediato. Só passados alguns minutos -ou algumas horas.
Defendo-me como posso. Digo, a sério, que só consulto a internet duas vezes por dia -ao acordar e ao deitar. Questão de higiene -mental. Curiosamente, quase sempre estou a escovar os dentes.

Ninguém acredita. E, quem acredita, diz que isso não é desculpa: existem uns celulares que recebem e-mails em tempo real e permitem respostas em tempo real.

Agradeço a informação, mas não era preciso: eu próprio já recebi e-mails do gênero, que terminam com a declaração solene “esta mensagem foi enviada por iPhone”.

Nunca sei que responder: mostrar-me abismado com a proeza e aplaudir a grande honra que o sujeito me concedeu?

Às vezes, há situações bizarras. Alguém envia um e-mail. Minutos depois, envia outro, só para perguntar se eu recebi o primeiro. Duas ou três horas depois, vem mais um -dessa vez, uma repetição do inicial, para o caso de eu não ter lido.

Essa comunicação unilateral termina com um quarto ou um quinto, em que sou acusado das maiores baixezas (indiferença, preguiça, hostilidade etc.).
Em poucas horas, alguém iniciou e terminou uma comunicação comigo sem que eu jamais estivesse presente para dizer “presente!”. Que se passa com o mundo?

Os especialistas no assunto, psicólogos e sociólogos que pesquisam os paradoxos da internet, afirmam que estamos cada vez mais ligados e exigimos respostas cada vez mais rápidas uns dos outros. Certo, especialistas do óbvio, certíssimo.

A questão, porém, deve ser outra: que tipo de gente a internet está a produzir no século 21?

Foi precisamente essa pergunta que o escritor Stephen Marche formulou em artigo para a revista “The Atlantic” (“Is Facebook Making Us Lonely?”). As conclusões não são otimistas: estamos todos ligados, mas essa sensação de contato permanente não significa que o nosso isolamento (e a nossa solidão) decresceu.

O Facebook é, inevitavelmente, um caso clássico: que significa esse imenso continente virtual onde “existem” 845 milhões de pessoas, onde se publicam bilhões de comentários diários e onde se postam 750 milhões de fotos por semana?

Stephen Marche não faz parte dos luditas modernos para quem o Facebook é a “bête noir” da civilização ocidental. A resposta dele, depois de ler os últimos estudos sobre o fenômeno, é de uma sensatez que arrepia: a internet é um meio, não um fim. O que somos como seres sociais depende da forma como usamos as redes sociais.

Que o mesmo é dizer: quem usa o Facebook para substituir a realidade não aumenta o seu “capital social”. Pelo contrário, pode mesmo sentir o isolamento típico de um peixe que contempla o mundo através do vidro do aquário. Paralisante. Angustiante.

No artigo, o autor cita um neurocientista da Universidade de Chicago, John Cacioppo, que oferece uma metáfora ainda melhor: podemos usar o carro para ir ao encontro de amigos; ou podemos dirigir sozinhos pelas ruas da cidade. O mesmo carro, duas atitudes distintas.
A internet, e as redes sociais que ela comporta, é apenas um instrumento para, não um substituto de. O desafio, leitor, não está em quebrar o aquário. Está em sair dele de vez em quando.

Sair. Desligar. Não estar disponível. Ou, como escreve Stephen Marche, “termos a oportunidade de nos esquecermos de nós próprios”.

Eis, no fundo, a observação mais luminosa do ensaio: a nossa constante disponibilidade para os outros é apenas uma manifestação mais profunda do nosso insuportável narcisismo. E o narcisismo, como sempre, nasce de uma insegurança que procuramos preencher com o culto doentio do ego.

Pensamos que somos tão imprescindíveis que temos de estar presentes 24 horas por dia na vida alheia. E vice-versa: pensamos que somos tão importantes que os outros têm de estar permanentemente disponíveis para nós.

Lamento, amigos. Lamento, colegas. Lamento, leitor. Os meus silêncios não têm nada de pessoal. Nem eu nem você somos assim tão importantes.

[Fonte: Folha de S.Paulo, Ilustrada, 24 de abril de 2012.]