sexta-feira, 15 de novembro de 2013

O Novo Testamento

                                                            


O Novo Testamento é o conjunto de livros onde está registrado o estabelecimento e o caráter dos novos tratados de Deus com os homens por meio do Senhor Jesus.  O Antigo Pacto envolvia uma revelação da santidade de Deus num justo padrão de lei, que, os que a recebessem, eram solenemente admoestados a guardar.  O Novo Pacto traz a revelação de Deus no Filho, completamente justo que da aos que o recebem a revelação, o poder de se tornarem filhos de Deus, tornando-se justos (Jo 1.12).  O conteúdo do Novo Testamento consiste na revelação deste novo pacto por meio das palavras escritas de Jesus Cristo e dos seus seguidores. Compreende 27 obras distintas, de nove autores diferentes. Estes documentos foram escritos num espaço de mais de meio século, provavelmente nos princípios de 45 d.C. até cerca do ano 100 d.C. As alusões históricas que nele ocorrem dizem respeito a todo o primeiro século e o seu fundo de pensamento cultural recua até ao século IV ou V a.C.

1     O CÂNON DO NOVO TESTAMENTO
Nos primeiros dias da vida da igreja primitiva, não havia nenhum livro dos quais hoje conhecemos no Novo Testamento. Os cristãos primitivos liam em suas reuniões alguns livros do Antigo Testamento, especialmente aquelas passagens que falam do advento do Messias, cumpridas na pessoa do Senhor Jesus Cristo. Sendo assim, a igreja primitiva não tinha uma teologia bem definida como temos hoje em dia. Com o trabalho dos autores do Novo Testamento a igreja foi gradativamente dando prioridade a leitura dessas novas obras sagradas. Como a igreja estava espalhada em várias partes do mundo daquele tempo (África Ásia e Europa) e a maioria dos livros que iam sendo escritos eram destinados a grupos específicos do cristianismo, que estavam espalhados em várias partes do mundo, esses grupos não tinham imediatamente conhecimento de todos esses livros que foram surgindo. Mas com o passar do tempo, esses livros foram circulando e sendo conhecidos pela igreja de modo geral. Mesmo não sabendo a data exata em que todos os livros foram escritos, nem seus verdadeiros destinos, podemos afirmar que no final do primeiro século todos eles já haviam chegado em seus respectivos destino. No entanto, nem todos esses livros se tornaram conhecidos por todos os cristãos logo de inicio, ao contrário disso, algumas obras apócrifas como evangelhos e epistolas, circulavam durante o segundo século e foram aceitas por alguns grupos. Em face de tal situação se pergunta que critérios presidiram a aceitação de uns a rejeição de outros? De acordo com que princípios foram os quatro evangelhos, Atos, as treze epistolas de Paulo, as epistolas universais e o Apocalipse reunidos para compor o Novo Testamento, enquanto que outros livros de idade quase igual foram excluídos? O problema do cânon do Novo Testamento reside nessas perguntas. Mas antes de entrarmos nessa questão veremos o conceito de cânon.

2.1 DEFINIÇÕES ETIMOLÓGICAS DE CÂNON
A palavra cânon é latina e significa cana. Essa palavra vem do termo grego Kanon, que significa regra ou vara. Etimologicamente falando, esse termo vem de empréstimo da cultura semítica para referir uma planta que conhecemos com o nome de junco. Na antiguidade, essa planta era utilizada tanto para medir como para pautar. Sendo assim, a palavra cânon passou a ter o sentido de regra ou pauta. No decorrer do tempo, essa palavra passou a ter o significado formal de lista ou tabela.  Durante os três primeiros séculos, essa palavra passou a ser usada no âmbito da igreja para designar o conteúdo doutrinário e ético da fé cristã. E somente por volta do século IV é que ela passou a ser utilizada para listar os livros bíblicos, considerados inspirados por Deus, tanto do Antigo como do Novo Testamento. Atualmente, o uso predominante dessa palavra é para designar a coleção completa de todos os livros da Bíblia, em cuja coleção não se pode mais adicionar nem tirar nenhum livro. Sendo assim, o cânon da Bíblia, considerando tanto o Antigo como o Novo testamento, é uma obra completa e acabada. Portanto, a palavra cânon, por extensão, trás o significado de regra ou padrão, ou seja, nossa fé e conduta devem ser padronizadas nos escritos bíblicos, sendo assim a ação ética e espiritual nos faz ver que os livros canônicos são diferentes dos demais. Toda a literatura pode registrar o pensamento humano. Algumas obras podem influenciá-lo profundamente, mas os livros do Novo testamento o transformam. O seu poder constitui uma boa prova da sua inspiração.

2.2 O PODER TRANSFORMADOR DO NOVO TESTAMENTO
Os escritos do Novo Testamento não constituem só leituras proveitosa, são também potentes e dinâmicos. O seu efeito moral é demonstrado pelo seu poder dentro da igreja cristã. Se bem que não se pode dizer que cada membro da igreja primitiva tivesse um exemplar de bolso do Novo testamento para estudo assíduo. Pode se demonstrar que os dirigentes o conheciam e o utilizavam onde que a sua mensagem fosse proclamada e recebida. A igreja expandia-se e operava uma limpeza moral na sociedade. Nem todos os cristãos professos do primeiro século em diante tinham caráter imaculado, nem tão pouco a igreja se mostrava sempre isenta do mal. Apesar desses fatos, entre os padrões morais do paganismo e os da igreja do Novo Testamento havia um grande abismo: surgiram o amor, a pureza, a humildade, a verdade e muitas outras virtudes que mal existiam no paganismo. Por muito frouxamente que os cristãos seguissem os ideais que caracterizavam, distinguiam-se dos pagãos que os cercavam graças ao poder da verdade do Novo Testamento. As provas da mensagem divina e do poder moral desses livros não podem ser aplicados com sucesso por um único individuo numa esfera limitada, para que se não argumente que a dinâmica do cânon era apenas o efeito fortuito produzido pela reação acidental tempo-temperamento. Quanto ao testemunho interno das próprias obras e o testemunho externo daqueles que as conheciam e utilizavam, são unânimes em mostrar que elas provêm de Deus. Sendo assim, tornam-se mais seguros os critérios de canonicidade.

2.3 A ESCOLHA DOS LIVROS CANÕNICOS
A decisão final sobre o que devia e o que não devia ser introduzido no cânon não se limitava de forma arbitrária a uma só pessoa ou a um só grupo local da igreja cristã. Essa decisão nasceu gradativamente como o desenvolvimento de um corpo em formação. A separação entre livros canônicos se deu através de uma ação lenta e espiritual. Nesse caso podemos dizer que essa ação foi alçada pelo poder do Espírito Santo de Deus no desenvolvimento da igreja cristã. Não foi a igreja quem estabeleceu o cânon; a sua participação nesse processo foi tão somente de reconhecê-lo. Acrescentamos ainda, que no sentido mais amplo, nenhum concilio eclesiástico poderia criar um cânon, visto que a inspiração é a qualidade essencial de canonicidade, portanto nenhum grupo ou concilio podia insuflar inspiração em obras já existentes. Tudo o quanto os concílios podiam fazer era dar sua opinião acerca dos livros considerados inspirados e dos que não eram e, depois, deixar que a história justificasse ou invalidasse o seu veredicto.

2.4 RESUMO HISTÓRICO DA FORMAÇÃO DO CÂNON DO NOVO TESTAMENTO
No inicio do segundo século, todos os livros que atualmente fazem parte do Novo Testamento já haviam chegado ao seu destino, mas nem todos os cristãos dessa época tinham conhecimento de todos esses livros, visto que a circulação universal desses livros se deu através de um processo bastante lento. No segundo século, alguns livros, atualmente considerados apócrifos, eram aceitos em alguns igrejas como obras inspiradas por Deus. Durante o tempo dos apóstolos, algumas das epistolas de Paulo e um ou mais evangelho já eram aceitos como escrituras Sagradas. Já no começo do segundo século de modo geral, ainda não universal, treze epístolas de Paulo eram recebidas como escrituras Sagradas, como também o livro de Apocalipse, totalizando vinte livros ou mais.
Durante o segundo século, eram aceitos quase universalmente todos os 27 livros do Novo Testamento, com exceção epistola de Tiago. Contudo alguns aceitavam essa epistola também. Orígenes (254 d.C) foi o primeiro dos pais da igreja a aceitar a epistola de Tiago, mas também aceitava a epistola de Barnabé e o Pastor Hermas, pelo que seu Novo Testamento constava 29 livros. No século IV d.C. chegou-se a fixação quase universal do cânon do Novo Testamento, tal como existe hoje em dia. Os concílios, tanto os antigos como os da idade média, em geral, aprovaram o cânon dos 27 livros, tal como os conhecemos na atualidade.

2.5 OS PRINCÍPIOS OBSERVADOS PARA A CANONIZAÇÃO
Os livros do Novo Testamento não foram canonizados aleatoriamente. Sendo assim, o processo de canonização foi feito dentro de alguns princípios.

1.    Deveria ter Circulação e aceitação universal pela maior parte da liderança da igreja: Alguns livros não foram aceitos por falta de circulação na igreja universal, visto que circulavam somente em focos isolados da cristandade daquele tempo; outros, apesar de ter esse mesmo problema foram aceitos, embora bem mais tarde.
2.    Autoria deveria ser dos apóstolos ou dos discípulos dos apóstolos: Dentre os apóstolos, temos as epistolas de Paulo, de Pedro, o evangelho de Mateus e o de João. Dentre os discípulos dos apóstolos, temos o evangelho de Marcos, de Lucas, o livro de Atos, e possivelmente a epistola aos Hebreus, etc.
3.    Os livros deveriam concordar com a tradição e a doutrina ensinada pelos apóstolos: Lucas, Atos, Apocalipse e II Pedro. Também foram rejeitados os escritos ridículos ou fabulosos. Entre esses podemos enumerar a maior parte dos livros apócrifos, o evangelho de Tomé, o de André, os Atos de Paulo, o Apocalipse de Pedro, etc. Houve rejeição de literaturas que visavam propagar heresias, como o evangelho de Tomé, diversos outros evangelhos, epístolas falsas e apócrifas.

2.6 O ANTIGO TESTAMENTO BASE DE APOIO PARA O NOVO TESTAMENTO
O Antigo Testamento, que forneceu o impulso criador de um Novo Testamento, a vida e as palavras do Senhor Jesus, e, em consequência, a necessidade de criar uma autoridade do Antigo Testamento; a nova religião cristã, de criou a necessidade de mais Escrituras além das Escrituras judaicas, para formar a base da nova revelação; os apóstolos, primeiros grandes lideres da nova fé revelada, os quais com seus livros e epístolas, que criaram os cânones primitivos e uma nova autoridade na igreja primitiva e os concílios da igreja primitiva e medieval. Depois de alguns séculos de desenvolvimento, o cânon do Antigo Testamento foi finalmente estabelecido antes do fim do século 1 a.C. Grande parte da congregação judaica aceitava diversos livros apócrifos, pelo que não havia opinião unânime sobre o cânon, do Novo Testamento. A verdade é que então já existia o fato de comunidade religiosa que compilavam lista de livros dotados de autoridade religiosa. Aqueles que estudam a história e a literatura dos povos antigos notam que todos esses povos contaram com sua literatura sagrada.

Os romanos contavam os escritos Sibilinos, os gregos tinham os escritos de Homero, de Musaio e de Orfeu. Os egípcios colecionaram os 42 livros de Hermes, o livro dos mortos e outros mais. Por semelhante modo, a nova religião cristã sentiu a necessidade de contar com uma fonte escrita de autoridade, que servisse de base à fé e à prática cristã. Não queremos dizer, com isso, que as novas Escrituras não usufruíram da orientação e da inspiração do Espírito Santo, mas é obvio que a formação do cânon sofre influências da esfera humana também. Igualmente é claro que nessa esfera humana, Deus usa indivíduos e circunstâncias para efetuar suas obras e sua vontade. Assim é que a igreja primitiva aceitava os livros do Antigo Testamento como dotados de autoridade religiosa e de inspiração divina. Esses livros formaram o cânon mais primitivo da igreja cristã, embora fique evidente que nesses livros, estavam ausentes determinados ensinos que eram os ensinos distintos do cristianismo, emanados de Cristo ou dos apóstolos. Portanto, os livros que continham as palavras de Jesus e dos apóstolos facilmente foram aceitos como parte do cânon nas Escrituras. Houve um processo longo e complexo antes que todos os livros que hoje temos no Novo Testamento constituíssem (individual ou coletivamente) o Novo Testamento. Neste encontramos grande número de citações a alusões tomados por empréstimo do Antigo Testamento. Também vemos que os autores do Novo Testamento aceitaram a ideia de que Jesus era o Cristo prometido no Antigo Testamento, pelo que os profetas do Antigo Testamento são, ao mesmo tempo, profetas da fé cristã. Isto feito, para formar a sua Bíblia, o cristianismo fez uma ligação entre as antigas e as novas revelações divinas. Dessa maneira é que se estabeleceu a base histórica do cristianismo. Pode se dizer, por conseguinte, que o Antigo Testamento não foi somente o precedente que exerceu influência na formação de um Novo Testamento em forma de documento escrito, mas também que exerceu notável influência no caráter e nas ideias dessa nova coleção de livros sagrados.

2.7 A INFLUÊNCIA DE JESUS CRISTO NA ESCOLHA DOS LIVROS
Nunca homem algum falou como Jesus. Ninguém jamais viveu como ele. Considerando sua vida e suas palavras, achamos não somente uma explicação para a existência de um Novo Testamento, mas também entendemos que seria impossível que, depois da vida de um homem assim, não tivesse sido escrito muitos livros acerca dele. O sentido e a ilustração desse fato pode ser observado pelo leitor, na existência não só do Novo Testamento, mas também na existência dos livros apócrifos do Novo Testamento, porquanto muitos “evangelhos”, “Atos e epistolas”, foram escritos por diversos indivíduos, descrevendo a vida dos doze apóstolos ou os cristãos antigos. Em Lc 1.1-3, mostra que muitos escreveram sobre Cristo e suas palavras, e que o próprio Lucas usou parte desses livros como base do evangelho que escreveu. Dizendo isto, porém, não queremos afirmar que Lucas usou livros “apócrifos”, esses livros que Lucas usou são desconhecidos hoje em dia, com exceção do evangelho de Marcos. Devemos notar que a vida e as palavras de Jesus não deixaram de ser observadas pelo mundo, e que até hoje o mundo continua a observá-las, e muitos continuaram escrevendo a respeito do assunto. Foi apenas natural, portanto, que parte das seções aceitas como “escrituras sagradas” relatassem as palavras de Jesus e descrevessem a sua vida. Esses livros foram designados desde o principio pelo nome de “evangelho”. Mas houve outros “evangelhos” que foram rejeitados.

2.8 A INFLUÊNCIA DA NOVA RELIGIÃO CRISTÃ
O cristianismo teve por berço o judaísmo, mas desde os seus primórdios, os novos elementos de Cristo e dos apóstolos exerceram grande influência sobre os cristãos. Mui dificilmente um judeu estrito aceitaria os ensinamentos de Cristo sobre a lei das cerimônias, sobre o divórcio, etc., mas o mais intragável seria aceitar as declarações de Cristo sobre sua própria pessoa, ou seja, a sua divindade. Jesus mesmo disse: “edificarei a minha igreja”. Jesus, tal como Lutero, foi separado da organização religiosa, que estava nas mãos das autoridades religiosas da época, e, tal como o mesmo reformador, logo contou com uma igreja estabelecida em seu nome. Nota-se, igualmente, que nas epistolas dos apóstolos desde o principio penetraram elementos não-judaicos. Apesar do fato de que, a princípio, o povo cristão tivesse permanecido no seio das sinagogas judaicas, quando Cristo ressuscitou dentre os mortos, já eram notadas diferenças entre os israelitas e os cristãos. A principal diferença era feita pelo próprio Cristo. O Senhor Jesus foi mais do que um reformador; Ele é o Deus-homem e, com a ressurreição, provou ser o primeiro homem imortal, tornando-se, dessa maneira, o padrão da vida e do destino de todos os cristãos. Essas explicações se encontram nas palavras de Jesus e dos apóstolos. É natural, pois, que a nova religião tivesse adotado os livros e as epístolas que continham essas diferenças como suas “Escrituras Sagradas”. Pode-se dizer, também, que bastava a existência da nova religião para que se impusesse a existência de novas “Escrituras”, que servisse de base à nova religião revelada.

2.9 A INFLUÊNCIA DOS APÓSTOLOS E DOS PAIS DA IGREJA
Não há que duvidar que as epístolas de Paulo, como as dos demais escritores sagrados, apresentam matérias que eles acreditavam ser de inspiração divina. Por muitas vezes Paulo fala das revelações que recebeu, dando a entender que as crenças ali apresentadas não eram propriamente suas. (Gl 1.8-11; Ef 1.8-11; 1 Co 15.51; 2 Co 12.7-13) Bem cedo muitos denominaram as epístolas de Paulo de Escrituras (1 PE 3.15-16, em combinação com 1.21). O autor do livro de Apocalipse tinha como indiscutível que seu livro seria considerado parte integrante das Escrituras Sagradas (Ap 22.19-20). Outro argumento que mostra que já no tempo dos apóstolos as suas epistolas já exerciam grande influência e eram extremamente usadas, são os seguintes: Paulo solicitava que as igrejas trocassem de epístolas (Cl 4.16). Certas epístolas mostram grande cuidado em sua preparação, como as epístolas aos Romanos e aos Hebreus. É impossível que os autores dessas epístolas pensassem que suas obras seriam lançadas no lixo pelos seus destinatários. O autor do livro de Apocalipse mostra claramente que ele queria que a igreja lesse, cresse e usasse o seu livro (Ap 22.19). Não é possível que Marcos tivesse composto seu livro, contando a história de Jesus Cristo, o Filho de Deus, pensando que a igreja haveria de lê-lo apenas por uma vez, para em seguida jogá-lo fora. Não é provável que Lucas tivesse efetuado tanto preparo e pesquisa para escrever seu livro a um oficial do governo romano com a ideia de que os próprios cristãos logo jogaria fora essa magistral obra histórica. Aquele que lê o Novo Testamento pode sentir o forte propósito que seus leitores tiveram de estabelecer, comunicar e glorificar a mensagem da nova religião revelada. Dificilmente alguém poderia aceitar a ideia de que isso era fruto de um impulso momentâneo, sem qualquer grande anelo ou finalidade. O fato que Mateus e Lucas usaram o evangelho de Marcos como alicerce de seus próprios livros, mostra que confiavam na veracidade da narrativa apresentada por Marcos. Assim sendo podemos ver como a influência dos próprios apóstolos e de outras autoridades da igreja primitiva serviu de importante fator na formação do cânon do Novo Testamento. Além das influências apostólicas, podemos destacar também a influência dos Pais da Igreja, tais como, Hirineu de Leão, Justino o mártir, Clemente, Hipólito de Roma, Inácio, Policarpo, Tertuliano de Cartago, Clemente, Orígenes de Alexandria, etc... Todos estes influentes líderes cristãos, entre outros, mesmo antes de ter sido definido os 27 livros do Novo Testamento, já mencionavam muitos deles em suas pregações e ensinos e também reconheciam a autoridade de inspiração divina, mesmo que às vezes houvesse divergência entre eles referente a alguns livros em particular. O grande historiador Eusébio também contribuiu para a formação do cânon como hoje o conhecemos, pois as opiniões mantidas pela igreja, em geral, até o século IV. d.C se refletiam no resumo preparado por ele que é considerado o pai da história eclesiástica. Ele dividiu a lista em três porções: livros reconhecidos: eram os que ele via como inspirados; livros discutidos: eram aqueles como o Apocalipse que devido ao seu rico conteúdo simbólico era difícil de interpretar e os livros espúrios: eram aqueles que posteriormente não entraram no cânon e este historiador já os via em desacordo com o restante do Novo Testamento que hoje temos.

2.10      A INFLUÊNCIA DOS CONCÍLIOS
Os concílios também exerceram grande influência na formação do cânon, mas tão somente tiveram a função de declarar a opinião geral das igrejas, em diversas partes do mundo, servindo, por isso mesmo, para consolidar e oficializar essa opinião. Os concílios eram marcados pela presença de representantes da igreja. Esses representantes vinham de suas respectivas regiões, ou seja, em qualquer parte do mundo onde havia uma igreja organizada, de lá vinha seu representante. Nos concílios eram tratados assuntos de relevante importância para o seguimento da igreja.
·         Concílio de Laodicéia (363): A discussão formal do cânon por delegados da igreja, reunidos em concilio oficial, não teve lugar senão em finais do quarto século. O primeiro concílio onde o assunto foi ventilado foi o de Laodicéia, em 363 d.C.
·         Concílio de Hipona (393): O concilio de Hipona, na África, aceitou todos os vinte e sete livros que temos hoje no Novo Testamento.
·         Concílio de Cartago (397): Em Cartago, na África, foi emitido um decreto semelhante ao do Sínodo de Laodicéia e apresentou uma lista de escritos idênticos a dos 27 livros do atual Novo Testamento. Outro concílio, também de Cartago em 419 d.C., confirmou a mesma posição do concilio anterior, mas separou a epístola aos Hebreus dos escritos de Paulo, não aceitando a ideia de que Paulo é quem a escrevera. Agostinho foi um dos principais personagens desses dois concílios.
·         Concílio de Nicéia (325): O concilio de Nicéia aceitou o cânon de Atanásio (todos os atuais 27 livros do atual Novo Testamento). Eusébio, bispo de Cesareia, na Palestina, aceitou essa decisão do concílio de Nicéia, mas não sem fazer algumas restrições. Crisóstomo, patriarca de Constantinopla, autor de muitos comentários e que foi a principal força influenciadora na igreja do Oriente ao seu tempo (398 d.C.) aceitava os quatro evangelhos, o livro de Atos, 14 epístolas de Paulo, 3 epístolas universais mas não 2 Pedro, 1 e 2 João, Tiago, Judas e o Apocalipse. Esse é o chamado cânon Peshitto (versão Siríaca) que reflete a tradição de Antioquia. Esse era o “cânon” daquela parte do mundo, a despeito da falta de qualquer decisão oficial, tomada em concilio.
·         Concílio de Trento (1546): O concilio de Trento, da igreja romana, aceitou a Bíblia tal como temos hoje em dia, mas no Antigo Testamento, incluiu vários livros apócrifos. Os cristãos protestantes, principalmente sobre a influência de Lutero e de sua tradução da Bíblia para o alemão, aceitavam a Bíblia tal como a temos hoje, sem os livros apócrifos.

Os concílios que discutiram o cânon só tiveram lugar no IV século, e nessa altura o Novo Testamento já se tornara as Escrituras Sagradas da igreja. O cânon existente saiu de um vasto corpo de tradição oral e escrita, e impôs-se às igrejas devido à sua autenticidade e poder dinâmico inerente. Desde o quarto século, não tem havido transformação no cânon reconhecido, se bem que, desde a reforma para cá, se tenha dado expressão a muitos pontos de vista individuais. É fato conhecido que, fora dos concílios, muitos indivíduos, em particular, incluído entre eles muitos lideres da igreja, durante a idade média e até o tempo da reforma, não aceitavam certos livros, ou pelo menos, não lhes davam o mesmo valor que emprestavam a outros e isso vemos na igreja até os dias atuais, por mais que a cristandade aceite todos os livros como sendo sagrados e divinamente inspirados, alguns se tornaram, para alguns grupos cristãos, mais usados, citados e pregados do que outros.

 FONTE: APOSTILA DO NOVO TESTAMENTO - KERIGMA T&D