domingo, 17 de novembro de 2013

Diferença entre o teimoso e o perseverante - Josfá Rosendo

                                 
Um amigo me contou recentemente a diferença entre o teimoso e o perseverante. Ele sentou-se comigo e mandou preparar um suco natural de laranja e , enquanto sugávamos o líquido fresco naquela tarde quente, ele dizia que tanto o obstinado quanto o perseverante tem um alvo, ou seja, um lugar predeterminado para chegar, mas a grande diferença é que o perseverante considera as várias possibilidades para atingir o objetivo, enquanto o teimoso enxerga apenas uma possibilidade. Achei muito interessante e fui para casa pensando sobre o assunto. 

Mais tarde, ensinando aos crentes de minha igreja, fiz referência às palavras do amigo para falar sobre o vasto campo de possibilidades que a vida proporciona, argumentando que muitos são os trajetos que podem conduzir ao mesmo alvo. Acrescentei que para o perseverante, o trajeto e o alvo são coisas diferentes, porém para o teimoso, o percurso e o alvo são a mesma coisa. Por isso que há momentos em que o primeiro muda a rota, apesar de persistir no mesmo alvo, pois sabe que mudança de rota não significa necessariamente mudança de objetivo, enquanto que o segundo não ver a possibilidade de mudar de uma coisa sem alterar a outra.

A gente só precisa de discernimento para perceber que alguns meios que usamos para atingir certo fim atrasarão muito nossa chegada ou então a inviabilizará, e então ter desprendimento e coragem para buscar meios alternativos mais viáveis que levarão ao mesmo lugar, desde que estes meios sejam legítimos. O apóstolo João, no capítulo cinco de seu evangelho, registra a história de um paralítico que, há 38 anos, esperava um milagre á beira de um tanque chamado Betesda(casa de misericórdia). Havia na região uma história segundo a qual, um anjo descia em certo tempo e agitava aquelas águas, sendo que a primeira pessoa que mergulhasse no tanque, após a agitação das águas, seria curado de qualquer enfermidade. Não sabemos com que frequência o anjo descia, ou se descia de fato, o que temos de concreto é que aquele paralítico nunca conseguiu a graça de entrar nas águas agitadas e receber a cura, porque sempre que ele tentava, descia alguém antes dele, para sua tristeza, e mais um período indefinido de espera começava.  

O paralítico de Betesda concentrou toda sua vida na expectativa de um dia conseguir a cura. Em sua cabeça, da cura dependia sua felicidade, e das águas de Betesda dependia a cura. Vejam como ele estabeleceu um fluxo delimitado para sua vida.  Era uma pessoa extremamente centrada naquela única possibilidade, a ponto de se tornar uma pessoa distraída em relação a toda a vida que se passava ao redor. Uma pessoa distraída não é alguém sem objetivo ou disperso, trata-se uma pessoa extremamente focada em um objetivo, a ponto de todo o resto desaparecer do campo de visão. É assim que um aluno em dias de provas e o estudante que vai prestar o concurso público esquecem até a senha do banco que usa há anos, ou a noiva que, com a proximidade da data do casamento, esquece a panela no fogo.

João conta que Jesus se aproximou daquele homem e, sabendo que estava assim há trinta e oito anos, perguntou-lhe se queria ficar curado. Mas o paralítico estava tão focado nas águas de Betesda, ou seja, tamanha era sua distração ao que se passava à sua volta, que ele não conseguiu atentar para a graça no olhar daquele que falava com ele e que lhe oferecia cura. Ele logo se queixou, primeiro de que não tinha ninguém por ele, segundo, que fosse alguém que lhe atirasse nas águas. Como já fizemos referência acima, ele estabeleceu um fluxo: a água é agitada - alguém, apressadamente, o mete no tanque e ele recebe a cura. Tudo o que fugisse disso não mereceria sua atenção. Ele não considerava nenhuma outra possibilidade de atingir seu objetivo, além das águas de Betesda, nem mesmo este encontro privilegiado com o Filho de Deus. Jesus o curou por misericórdia.

Assim acontece com muitas pessoas. Elas não conseguem separar o alvo que estão buscando do caminho em que estão trilhando, e mesmo que os obstáculos daquele caminho tornem-se intransponíveis para os recursos que possuem, teimam em prosseguir, porque não conseguem enxergar as múltiplas vias que a vida proporciona para se chegar a um mesmo lugar, possibilidades, aliás, muito bem exploradas pelo perseverante que, ao perceber que a estrada em que está não faz mais sentido, busca uma trilha, vai ampliando sua rota até atingir o alvo de sua vida. Há muitos caminhos para o mesmo destino e ,desde que sejam legítimos, podemos escolher o mais viável.

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